Por que deixei de ser Cristão
Postado em 2024-05-17 15:27:30
O começo
Comecei a frequentar a igreja na barriga da minha mãe. Desde pequeno fui instruído no caminho cristão. Até que em certo dia, a minha professora de filosofia nos indicou o livro “O Mundo de Sofia” para ler. Como eu gostava de estudar, fui à biblioteca municipal e peguei o livro. Eu não tinha o hábito de ler até então.
Bem nessa época, foi decretado o isolamento social pelo governador, por conta de determinada doença de coroa. Dessa forma, acabei ficando praticamente dois anos com o livro em casa, tempo mais que suficiente para ler.
Nesse tempo em casa, resolvi dar chance aos animes. Não me arrependi. Uma das melhores escolhas que fiz na minha vida foi assistir Death Note. O mesmo ocorreu com Harry Potter. Justamente pela boa fama que tinha a série literária, decidi ler também.
Todos esses elementos culturais somados expandiram minha mente de tal forma que o eu de antes da pandemia me dá a impressão de ser um ser não consciente.
Lógico, comecei a ler outros livros e a assistir a outros animes. Mas sem dúvida, os dois itens mais impactantes desse conjunto foram o livro da Sofia e o anime One Piece. Ambos me deram uma visão de mundo e uma liberdade mental absurda. Aquele Lucas que antes acreditava em qualquer informação que via, sem nenhuma resistência, passou a cultivar o hábito de questionar tudo o que vê. Coisas que eu não fazia antes por conta de acreditar serem erradas, ou que eram malignas, ou até que iriam me condenar a sentenças divinas, agora eram elementos de grande apreciação e estudo, e não possuo remorso algum de fazer.
Pré-julgamentos mentais que eu possuía, foram questionados ao extremo até se mostrarem ilógicos, desnecessários e até sinais de má índole.

Fonte: Dicio, Dicionário Online de Português
Questionando minhas crenças
Naturalmente, comecei a questionar a religião. E eu não via problema nenhum em fazer isso. Afinal, se Deus é a verdade absoluta, ao começar a me questionar, eu iria bater de frente com a verdade e minhas dúvidas seriam sanadas, certo? A verdade absoluta iria se garantir por si mesma. Mas infelizmente não foi o que as pessoas ao meu redor pensaram. Para elas, questionar a existência de Deus é equivalente a um pecado extremamente terrível.
Atualmente, eu compreenderia esse tipo de pensamento delas. Afinal, cada um possui a sua crença, e se você tem certeza que Deus existe, ver outra pessoa duvidar da existência dele seria como uma grande ofensa. Mas na época, eu possuía essas pessoas como as principais referências intelectuais. Quando eles apresentaram essa reação de julgamento e falta de raciocínio, mesmo eu explicando para eles meu ponto, acabou que a admiração foi diminuindo gradativamente, e tudo aquilo que eles me ensinaram nos ideais do cristianismo acabou se tornando ineficiente. Digo isso no sentido de me fazer ser um cristão e que me dedicasse à igreja, realizando as obras do Senhor com todo o coração.
Cheguei à conclusão de que não valia a pena mais eu continuar frequentando os cultos. Afinal, já que eu não tinha certeza da existência de Deus, por qual motivo eu estaria ali? Dizer que acredito em Deus com tantas pulgas atrás da orelha, e nenhuma evidência concreta a favor de tal crença, me fazia sentir que eu estava mentindo para mim mesmo.
Quando conheci a filosofia, aprendi a questionar, raciocinar, analisar, levantar hipóteses. Aplicando essas técnicas simples às minhas crenças, percebia-se facilmente que eu estava na caverna e nem sequer tinha me questionado sobre as sombras que eu via. Ao fazer perguntas e confrontar tudo aquilo que me foi dito durante anos, eu dava passos largos em direção à saída da caverna.
Não me arrependo de nada. Agora eu enxergo o mundo de uma forma muito mais abrangente e compreensiva. E continuo sempre me questionando sobre qualquer coisa.
Tentaram me convencer de que eu estava errado dizendo frases nas quais, na primeira impressão, parecem fazer realmente sentido e têm um forte impacto. Mas essa estrutura cai com poucas perguntas.

Fonte: Dicio, Dicionário Online de Português
“Às vezes o inimigo coloca dúvida.”
Deus é a verdade absoluta. Logo, qualquer dúvida basta apenas eu procurar na bíblia e interpretá-la, correto? Ou, isso significa que eu não posso ter dúvida? As dúvidas que eu tiver tenho que empurrar para debaixo do tapete e continuar acreditando? Muitas vezes a resposta será:
“Mas Deus vai tocar no seu coração e você entenderá.”
Já busquei essa experiência que as pessoas tanto falam de sentir a presença de Deus ou algo do tipo. Por um tempo, achei que tinha alcançado ela. Continuei na religião, já que eu tive a experiência que praticamente comprova a existência do Divino.
Porém, durante uma apresentação na orquestra, enquanto eu tocava no violino II, tive a mesma sensação que imaginava ser a manifestação da presença do Senhor. Não lembro de qual música era, mas provavelmente era Greensleeves ou My Way de Frank Sinatra. Ambas não necessariamente possuem alguma relação com o cristianismo. Praticamente, eu senti a tal sensação que acreditava ser a presença de Deus, enquanto buscava outra coisa que não possuía relação com a minha crença. É como se o aplicativo do YouTube abrisse quando, na verdade, você clicou no Instagram. Eu estava concentrado na música e em nenhum momento pensei em Deus.
Isso não comprova nada. Mas abre uma possibilidade, a de chegar naquela sensação, sem estar buscando a Cristo. Portanto, a única certeza que eu tinha, deixou de ser uma certeza e passou a ser uma possibilidade. Aquela experiência, que mais tarde descobri que simplesmente se chama êxtase, poderia ser, ou não, a presença de Deus se manifestando em mim.
Claro, pode-se argumentar que a música é a manifestação do Senhor ou algo do tipo, por isso senti tal coisa, mas na época eu não tive esse pensamento. Apenas continuei a me questionar e levantar hipóteses. Agora que eu realmente não tinha certeza de nada, nem da existência, nem da inexistência, eu deveria buscar outras formas de chegar até a verdade. A igreja, que vou nela desde minha clivagem celular (até antes), já não me trazia as respostas que eu buscava.
Mais tarde lembrei que tive a mesma sensação enquanto zombava e ria com alguns amigos meus durante o fundamental na escola. Logo, o argumento de que a causa da sensação ser a de que a música é uma manifestação perde sua sustentação.
Para ter uma noção de como está meu pensamento hoje, estou prestes a começar a ler Zaratustra, e só pelas pesquisas que fiz sobre o filósofo e suas obras, é o filósofo com cujas ideias mais me identifico. Talvez em outro post eu falo sobre isso.
by cimurro